PORTO PRÍNCIPE - Milhares de pessoas seguem ao relento em Porto Príncipe enquanto equipes de resgate de várias partes do mundo e aviões carregados de suprimentos começam a chegar lentamente ao Haiti em uma luta contra o tempo para encontrar sobreviventes do terremoto que atingiu o país na terça-feira (12). O tremor, de 7 graus na escala Ritcher, foi o pior a atingir o país em 200 anos.
Veja fotos da destruição após terremoto no Haiti
Visivelmente comovido com a tragédia, o presidente dos Estados Unidos,Barack Obama anunciou nesta quinta-feira uma ajuda inicial de US$ 100 milhões para o Haiti e ordenou que seu governo coloque no topo da agenda a ajuda a esse país.
Também nesta quinta-feira, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, anunciou que a instituição oferecerá US$ 100 milhões "d
e forma imediata" ao Haiti para se recuperar do terremoto da terça-feira.
AFP
Haitianos ao relento em Porto Príncipe
Sem um número definido de mortos e desaparecidos, as equipes de resgate enfrentam dificuldades para a organização e a locomoção pelas cidades haitianas por causa do estado das ruas e estradas após o terremoto.
Ainda não havia sinais de operações de resgate organizadas para as vítimas sob os escombros, e os médicos no Haiti, o país mais pobre do Ocidente, estavam mal equipados para tratar os feridos. Muitos haitianos remover com as próprias mãos pedaços de concreto, buscando libertar os que foram enterrados vivos. Um estoniano de 35 anos, Tarmo Joveer, foi libertado dos escombros de um prédio das Nações Unidas nesta quinta-feira.A Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou nesta quinta-feira a morte de pelo menos 36 funcionários após o desabamento da sede da entidade no Haiti e de outros prédios no tremor.
Entre os mortos estão quatro policiais da ONU, 13 funcionários civis e 19 militares, disse o alto representante da ONU David Wimhurst. O Exército brasileiro informou que 14 soldados do Brasil estão entre os mortos. A organização tem 200 desaparecidos sob os escombros.
A Cruz Vermelha haitiana estimou o número de mortos entre 45 mil e 50 mil e em 3 milhões os afetados pelo tremor, o pior em 200 anos a atingir o país. Há dezenas ou centenas de milhares de pessoas que perderam suas casas. Por causa do grau de destruição, autoridades haitianas chegaram até a afirmar na quarta-feira que o número de mortos poderia chegar a 100 mil.
População em choque
Em choque, muitos haitianos vagavam nesta quinta-feira pelas ruas de Porto Príncipel, buscando desesperadamente água, comida e remédio. "Dinheiro não vale nada agora; água é a moeda", disse um funcionário de ajuda humanitária à Reuters.
Na noite de quarta-feira, os sobreviventes dormiram nas ruas com medo de voltar para suas casas precárias. Era possível ver mulheres cantando canções religiosas tradicionais no escuro, enquanto oravam para os mortos."Elas cantam porque querem que Deus faça alguma coisa. Elas querem que Deus as ajude. Todos queremos", disse Dermene Duma, funcionária do Hotel Villa Creole, que perdeu quatro parentes.Saqueadores invadiram um supermercado danificado pelo tremor em um bairro de Porto Príncipe, levando eletrônicos e sacos de arroz. Outros tiraram gasolina de um caminhão-tanque quebrado."Todos os policiais estão ocupados resgatando e enterrando suas próprias famílias", disse Manuel Deheusch, o dono de uma fábrica de telhas. "Eles não têm tempo de patrulhar as ruas."
A Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah, na sigla em francês), dirigida militarmente pelo Brasil, voltou suas atenções para resgatar as vítimas do tremor e garantir a ordem pública nas ruas do país.
"Soldados e policiais da ONU estão em patrulha noite e dia desde que ocorreu o terremoto, para assim manter a ordem e ajudar nas operações de resgate", disse o porta-voz interino da Minustah, Vincenzo Pugliese, em comunicado divulgado na sede da ONU em Nova York.
A Minustah foi criada em 2004 pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para restaurar a ordem depois da violenta queda e saída do país do ex-presidente Jean Bertrand Aristide. Atualmente, conta com mais de sete mil militares e dois mil policiais, além de quase 1.800 funcionários civis de diferentes países.
Ajuda internacional
Os Estados Unidos estão enviando 3.500 soldados e 300 trabalhadores da área médica para ajudar com o resgate e a segurança na capital devastada. As primeiras equipes deveriam chegar ainda na quinta-feira. O Pentágono também enviaria um porta-aviões e três barcos anfíbios, incluindo um capaz de transportar até 2.000 fuzileiros navais.A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse que uma equipe militar dos EUA reabriu o aeroporto de Porto Príncipe para que aeronaves pesadas pudessem começar a trazer auxílio.
Ela prometeu assistência de longo prazo dos EUA ao debilitado governo haitiano. O Parlamento, o palácio nacional e muitos prédios governamentais desabaram e não estava claro quantos parlamentares e autoridades sobreviveram. A principal prisão também ruiu, permitindo a fuga de criminosos perigosos.
Países de todo o mundo ofereceram ajuda. O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, disse que três aeronaves do governo francês transportando 40 toneladas de equipamentos, médicos e funcionários de segurança já haviam aterrissado no Haiti e outras duas estavam a caminho.
EUA, China e países da Europa estão enviando equipes de resgate, algumas delas com cães farejadores e equipamento pesado, enquanto outros governos e grupos de ajuda humanitária ofereceram barracas, unidades de purificação de água, alimentos e equipes de telecomunicação.
Cadáveres nas ruas
Depois do terremoto de terça-feira, seguido por três réplicas menos intensas, as ruas e praças da capital haitiana se transformam em um grande dormitório coletivo na parte da noite.
De dia, essas mesmas pessoas vagam por uma cidade onde os cadáveres apodrecem nas ruas, os feridos esperam um auxílio que não chega e ainda é possível ouvir os lamentos das pessoas presas sob os escombros dos vários edifícios que desabaram.
Corpos estão espalhados pelas ruas do Haiti / Reuters
Ao menos 1.500 corpos estão empilhados dentro e fora do necrotério do hospital geral de Porto Príncipe e caminhonetes continuam levando ao local as vítimas do terremoto de terça-feira que devastou o Haiti, informou o diretor do hospital.
Em meio a esse panorama, não há autoridade ou ordem. As pessoas se ajudam, enquanto alguns esforçados integrantes de organizações humanitárias tentam aliviar um pouco a situação.
O presidente haitiano, Rene Préval, e os membros de seu gabinete estão em Porto Príncipe, alguns até percorreram as ruas para observar pessoalmente os danos, mas não se reúnem nem tomam decisões em parte por causa da destruição de muitos dos edifícios públicos e ao fato de que as comunicações não funcionam.
Terremoto devastador
O terremoto de 7 graus na escala Richter ocorreu às 19h53 de Brasília na última terça-feira e teve epicentro a 15 quilômetros de Porto Príncipe, a capital do Haiti.
Além dos 14 soldados brasileiros mortos, a brasileira Zilda Arns, fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança, ligada à Igreja Católica, também morreu no tremor.