O deslocamento da divisão blindada dos EUA para a Jordânia evidencia que o conflito sírio está se convertendo numa catástrofe regional. Receando por seus aliados do Oriente Próximo, os norte-americanos intentam prever o péssimo dos cenários de evolução da situação.
A presença das tropas norte-americanas na Jordânia poderá agravar ainda mais a crise síria, declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Federação da Rússia, Alexander Lukashevich. Recordemos que nestes dias o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, anunciara que Washington havia decidido enviar para a Jordânia a 1ª divisão blindada e cerca de duzentos especialistas militares nas áreas de reconhecimento, logística e operações especiais.
Em Amã confirmaram os planos de Washington, especificando que os militares estadunidenses se dedicarão a reforçar a prontidão combativa do exército jordano.
Alguns dias antes, o presidente da Síria, Bashar Assad, tinha advertido que o incêndio da guerra civil síria ameaçava expandir-se para a Jordânia vizinha. No território da qual – frisou Assad – estão sendo treinados militantes da oposição síria e donde os rebeldes recebem armas e munições.
A atividade norte-americana na região do conflito sírio tem a ver com uma combinação de várias circunstâncias, acredita Vladimir Isaev, professor do Instituto dos Países da Ásia e África da Universidade Estatal de Moscou M.V. Lomonosov:
"O principal, em minha opinião, é o fato de os EUA ficarem numa situação deveras muito desagradável, porquanto sua assistência encoberta à oposição síria se traduziu, em vários casos, em ajuda às forças que trabalham para a Al-Qaeda ou pura e simplesmente fazem parte desta. Por isso, os próprios norte-americanos inclusive declararam que era indispensável monitorar de alguma maneira essa situação.
Pois bem, e por que é que se presta tanta atenção à fronteira sírio-jordana? Porque os norte-americanos, acho eu, estão ponderando a seguinte variante: se o regime do presidente Assad cair na Síria, neste caso a Síria inevitavelmente, segundo muitos analistas, irá se dividir em duas ou três partes constitutivas. Porque a Síria, no que diz respeito à composição confessional, é extremamente heterogênea. Portanto, o país para onde se poderão transferir os tumultos de toda sorte, será precisamente a Jordânia. O país que é também heterogêneo, e não só do ponto de vista confessional mas sim da composição étnica, pois mais de cinquenta por cento de sua população são palestinos".
A atitude dos palestinos, no que diz respeito tanto ao problema sírio como às relações com Israel, difere muito da linha oficial da Jordânia. Por isso, de acordo com Vladimir Isaev, não se sabe quais as consequências que essas contradições poderão acarretar. A Jordânia vê com muita cautela tudo o que está sucedendo na Síria, e receia que os acontecimentos sírios por si só, ou os militantes que combatem nessa ou naquela ala da oposição síria, possam principiar a minar o regime jordano, o qual já sem isso se encontra numa situação muito complicada.
Nesse sentido, a presença militar dos EUA acrescentará uma dose de confiança às autoridades jordanas e permitirá, ao mesmo tempo, aos norte-americanos criar, para si mesmos, uma ilusão de controlarem a evolução dos acontecimentos.
Os norte-americanos nunca ocultavam sua estratégia em relação à Síria, disse à Voz da Rússia o editor-chefe do portal noticioso e analítico Vostochny Express (Expresso do Oriente), Salim Ali Assad:
"Creio que esses duzentos soldados, cujo deslocamento foi anunciado há pouco, fazem parte de uma operação integrada que os norte-americanos estão planejando. Eles querem ficar preparados para a realização de qualquer cenário na Síria. Não se deve excluir que estão preparando uma invasão de qualquer tipo, o que também depende do desenrolar dos acontecimentos sírios. Eles não escondem que pretendem criar uma zona-tampão no sul da Síria. É que eles mesmos têm medo dos islamistas e desejam proteger as fronteiras de Israel. O mais importante para eles é controlar as colinas de Golã com o objetivo de evitar que nenhuns grupos terroristas anti-israelitas se infiltrem para lá a fim de perpetrar atentados contra Israel".
O papel da Jordânia no conflito sírio parece muito difuso. Decerto, dá-se a impressão de que pouca coisa dependa da posição de Amã. Os Estados Unidos não abrem cartas, mas o deslocamento da divisão blindada e grupos de oficiais versados em operações especiais para a região em proximidade imediata das hostilidades, isso não é uma brincadeira. Além disso, tornou-se de conhecimento público a decisão de estacionar na Jorfânia os sistemas de defesa antiaérea Patriot.
A Jordânia, nesse ínterim, fica no ponta de ataque em qualquer dos casos: tanto se as forças blindadas invadirem desde seu território a Síria, como se os islamistas empreenderem quaisquer ações imprevisíveis a partir do território sírio. Nem uma variante nem a outra não oferecem nada bem ao Reino Hachemita.
A informação é da Vóz da Rússia, da (INFORMNEWS)